“Como Governo Indígena, o objetivo que temos é poder manter nosso território unido e consolidado”

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Rosalía Matene Mosúa é uma mojeña ignaciana, natural da comunidade de Santa Rosa del Apere, e participou da primeira eleição do Grande Cacique da Autonomia do Território Indígena Multiétnico (TIM), localizado na Bolívia. Como vice-presidente da Coordenadoria Nacional das Autonomias Indígenas Originárias Campesinas (CONAIOC), analisa esse momento histórico e aponta os principais desafios para o futuro.

Rosalía Matene Mosúa é uma mojeña ignaciana, natural da comunidade de Santa Rosa del Apere, e participou da primeira eleição do Grande Cacique da Autonomia do Território Indígena Multiétnico (TIM), localizado na Bolívia. Como vice-presidente da Coordenadoria Nacional das Autonomias Indígenas Originárias Campesinas (CONAIOC), analisa esse momento histórico e aponta os principais desafios para o futuro.

A eleição das primeiras autoridades do Governo Indígena Autônomo de TIM é um momento muito importante depois de mais de 10 anos de início do processo para consolidar nossa Base Territorial de Autonomia Indígena. Esta eleição nos emociona e, acima de tudo, esperamos que seja o início de uma série de melhorias na administração de nosso território, recursos naturais, recursos econômicos e o aprofundamento do conhecimento de nossa história dentro do território.

Como Governo Indígena, o objetivo que temos é poder manter nosso território unido e consolidado. Também crescer do ponto de vista econômico e humano para que, como Autonomia Indígena, possamos demonstrar que somos capazes de exercer nosso autogoverno e autodeterminação. Esse também é um dos objetivos que temos.

Como povos indígenas, temos a capacidade de nos governarmos e estamos demonstrando isso com esta eleição, porque somos nós que estamos conduzindo o processo conforme o estabelecido por nossas normas e procedimentos próprios. O que fizemos nesses três dias? Realizamos a Reunião Ordinária de Corregedores.

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Rosalía Matene Mosúa durante a eleição do Grande Cacique. Foto: Ore

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Rosalía Matene Mosúa durante a eleição do Grande Cacique. Foto: Ore

No primeiro dia, domingo, 23 de julho, os eleitores das 26 comunidades do território foram credenciados: um total de 893 credenciados para votar. O segundo dia começou com a eleição e posse do Presidium: uma mesa composta por cerca de 6 pessoas que seriam encarregadas de conduzir o processo eleitoral das autoridades. Nesse dia, foram eleitos os deputados titulares e suplentes dos povos que compõem o TIM: Mojeño Trinitario, Mojeño Ignaciano, Movima, Yuracaré e Tsiman. Eles serão as autoridades legislativas do Governo Autônomo Indígena.

Finalmente, na terça-feira, 25 de julho, foram realizadas as eleições para o Poder Executivo, ou seja, a eleição do Grande Cacique, do Conselho e de dois Operadores Territoriais, um de Recursos Naturais e outro para a Área Social. Essa eleição não aconteceu por comunidade, mas em plenário, por meio do voto universal e secreto. Cada candidato tinha um número, 1 e 2, e os comunitários deviam escrever o número em um papel e depositá-lo em um jasayé (uma cesta tradicional feita com folhas de palmeira que usamos no território).

Quais são os desafios que surgem depois da primeira eleição? O primeiro desafio é garantir que os recursos econômicos destinados ao território sejam utilizados para cobrir as necessidades. Necessitamos de uma administração responsável e, acima de tudo, da participação de todos os membros da comunidade. O que nós esperamos é que essas necessidades e essas formas de designação dos recursos venham das comunidades e não (como foi feito) da administração pública, onde é o poder público municipal quem decide onde e como os recursos serão investidos.

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Um membro da comunidade deposita seu voto no jasayé. Foto: Ore

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Um membro da comunidade deposita seu voto no jasayé. Foto: Ore

Outro desafio que temos como povos indígenas é conseguir a capacidade técnica para fazer valer o respeito ao território. Como bem sabemos, nosso território é ameaçado pela subjugação de grupos interculturais. Por isso, devemos continuar mantendo essa firmeza que os comunitários e cada um dos corregedores têm em suas comunidades. Devemos defender esse espaço territorial, que é nosso, para que ninguém venha e tire o que é nosso.

Depois de muito tempo, nossa autonomia está dando os primeiros passos. Conhecendo as experiências de outras autonomias indígenas já consolidadas, temos visto que, apesar de já haver um caminho aberto, ainda existem muitos obstáculos para resolver. Nós, a Autonomia do Território Indígena Multiétnico, vamos seguir abrindo ainda mais esse caminho.