Depois de uma década de luta, o Território Indigena Multiétnico (TIM) alcançou sua autonomia. Composto por cinco povos indígenas (Mojeño Ignaciano, Mojeño Trinitario, Tsimane, Movima y Yuracaré), este território localizado na Amazônia boliviana elegeu suas autoridades para a Assembleia Legislativa Territorial e para o Órgão Executivo Territorial. Neste contexto, Alfredo Matareco Maza foi eleito como o primeiro Grão Cacique do autogoverno. A seguir, seu primeiro discurso como autoridade.
Depois de uma década de luta, o Território Indigena Multiétnico (TIM) alcançou sua autonomia. Composto por cinco povos indígenas (Mojeño Ignaciano, Mojeño Trinitario, Tsimane, Movima y Yuracaré), este território localizado na Amazônia boliviana elegeu suas autoridades para a Assembleia Legislativa Territorial e para o Órgão Executivo Territorial. Neste contexto, Alfredo Matareco Maza foi eleito como o primeiro Grão Cacique do autogoverno. A seguir, seu primeiro discurso como autoridade.
Me enche de alegria saber que um filho do território assume este cargo histórico. Estamos escrevendo uma nova história, um desafio dentro do território. Eu represento ao povo Mojeño Ignaciano, de lá eu venho, mas minhas raízes são trinitarias e esse é um orgulho que levamos no sangue por ser indígenas.
Hoje que estamos no comando do território, tenho o grande desafio de manter a unidade entre os cinco povos indígenas: os mobimas, os ignacianos, os trinitarios e os irmãos tsimanes. Neste momento, uma luz se abre para mim, tenho a força porque acredito no meu povo, acredito nas pessoas e também acredito nos líderes históricos que vão ser os pilares fundamentais para que este governo indígena funcione. Por que não dizê-lo?
Fico entusiasmado em ver tanta gente, essa alegria que contagia, que um dia sonhamos em autogovernarmos. Estamos cansados de ser a escada de alguém. Hoje vamos virar a página: hoje nós podemos decidir por nós mesmos e podemos nos governar por nós mesmos. Dou graças a Deus, porque como povos indígenas conseguimos crescer.
Os cinco povos do Território Indígena Multiétnico se reuniram na comunidade de San José del Cabito. 893 pessoas foram autorizadas a votar. Foto: Ore
Os cinco povos do Território Indígena Multiétnico se reuniram na comunidade de San José del Cabito. 893 pessoas foram autorizadas a votar. Foto: Ore
Também quero agradecer às instituições que nos apoiaram para que este processo pudesse avançar e para passar pelos problemas que tivemos no território. Antes era muito difícil enfrentar nossa realidade dentro do mesmo Estado. Era como um monstro que tínhamos.
Até hoje, ainda vemos que nós indígenas somos menos que os outros. A Constituição Política do Estado é clara: Somos um Estado Plurinacional composto pela diversidade de culturas, povos indígenas e não indígenas. Aqui nasce também a capacidade como povo indígena, o mundo tem que saber que somos capazes como qualquer outra cultura de desempenhar uma administração. E vamos mostrar que somos pessoas de consenso, não de discórdia, não de desunião. O meu grande desafio é manter os povos unidos para as próximas gerações e mostrar o exemplo para nossos filhos, netos e bisnetos.
Também temos que manter esta cultura de respeito aos valores espirituais, à riqueza da natureza e à diversidade dos territórios. Isso é o que também queremos proteger. Queremos conviver com a natureza, e acredito que isso é o indígena. O indigena tem a capacidade de se sustentar apesar das dificuldades. Apesar da adversidade que vivemos, o indígena sobreviveu a qualquer tempestade. Por isso somos fortes e isso nos dá coragem para continuar e alcançar muitas conquistas pelo bem do território.
O Grão Cacique foi eleito por 489 votos. Foto: Ore
O Grão Cacique foi eleito por 489 votos. Foto: Ore
Eu, como indígena, agora sou nomeado por este povo. Me nomearam não só os trinitarios. Me nomearam os cinco povos deste território e isso é um motivo de orgulho. Nenhuma autoridade deve romper esse vínculo. Não tem que haver diferenças entre os povos. E temos maturidade o suficiente.
Sei que existem fraquezas, mas essas fraquezas, com o tempo, devem ser nossa força. Muito Obrigado, estou muito feliz e agradeço a Deus. Também quero agradecer a minha família. Tenho uma esposa, tenho quatro filhos e sou engenheiro de profissão. Com orgulho como indígena.
Hoje encaro um desafio importante, pois vamos escrever uma história em uma folha em branco. Estamos começando. O povo indígena nunca havia vivido isso, mas já estamos vivendo. Esperemos que com a luzinha de nossos antepassados que já não estão aqui. Sei que eles vão nos iluminar para conduzir este povo. Muito obrigado.